sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sobre processos e anéis

Estava ele, quase que inocentemente, no andarilhar das salas de recepção em um Fórum ou Tribunal qualquer, a levar processos mil de um lugar a outro. Não buscava raciocinar sobre aquilo, afinal o amontoado de vidas sendo decididas pelas canetas dos magistrados não parecia tão instigante naquele momento. Era mecânico: levanta, digita, etiqueta, despacha...
O curioso é que para aquele aspirante-a-jurista-metido-a-revolucionário, não fazia tanto sentido mecanizar aqueles serviços, não fazia sentido tantos protocolos, burocracias, informatizações, hierarquias... parecia que aquilo não era mais do que uma sala a mostrar onde o Direito - na sua forma emancipatória - não estava.
Subrepticiamente, entre o filosofar do estagiário-descrente e o carregar mecânico dos papéis, eis que um anel se quebra. Não era qualquer anel. Era um anel de tucum.
Ficou tão abismado com aquela situação que resolveu contar aos amigos de faculdade, de movimento. Todos falaram em única voz sobre o simbolismo daquele caso.
Naquele dia, em que os processos ganharam vida e mostraram o abismo entre a vida cotidiana dos movimentos e a realidade jurisdicional, ele teve ainda mais certeza que o direito ao qual (ainda) acreditava é feito de luta, gritos, palavras de ordem, suor e lágrimas - num embate cotidiano entre o peso do Exmo-Sr-Dr-Juiz e a singeleza de um anel preto.
Já está com outro anel e saiu do estágio.

2 comentários:

Eduardo disse...

Mermão...Tá faltando você aqui hoje na abertura do curso, esse curso com gosto de umbu travoso..rs .Das alianças e anéis, idéias e ideais que se confluem ou tomam rumos diferentes, mas que superam o único olhar de um mesmo lugar do direito, da vida, das outras formas de viajar..Aquele Abraço Gajo.

Clarrissa disse...

Quem dera me acontecesse qualquer coisa assim, com tanto simbolismo, que me apontasse um caminho...

(Mas aqui não há espaço para crise existencial de leitor atrevido não.. rs.. não está mais aqui quem falou.)