sexta-feira, 18 de julho de 2008

A madrugada

Muitos começam por dizer que temos três divisões (arbitrárias, obviamente) no "todo" chamado dia. Anulam deliberadamente, por razões históricas, biológicas, ideológicas, etc, o período que têm sido para mim o mais importante.
Não que pela primeira vez estivesse eu postando algo por essa hora, muito menos que não estivesse claro há muito tempo que a madrugada tem algo de diferente, mas porque talvez seja o período mais dialético de todos, preserva e nega vários componentes dos outros irmãos mais velhos e conhecidos: bom dia, boa tarde, boa noite.
Do dia retira a calmaria, o florescer de certos comportamentos humanos mais simpáticos e simplórios: beber café, conversar com os amigos, ler um bom livro, amar...
Da tarde, frenética e calorosa que é, retira um quê de criatividade e de emoção, geralmente é a madrugada o período em que fazemos coisas que poderíamos (e deveríamos) ter feito à tarde... é como uma segunda chance do Deus tempo, para estudar, ler emails, organizar o outro dia.
Da noite, esse mar negro que inunda-nos todos os dias, retira uma certa tristeza, um certa solidão. Por mais que as noites busquem luzes e sons que as ressignifiquem, sabemos que a noite, associada que é às trevas ou ao mal, acaba por nos amedrontar de alguma forma.
Diante de todos esses componentes, poderia eu buscar uma Ode à madrugada, "madrinha dos poetas aprendizes", "rainha dos amantes", "padroeira das provas não estudadas", "sereia encantada dos jornalistas"... prefiro fazer diferente.
Se a madrugada é o espaço-tempo dialético onde "todos" dormem, ela preserva dentro de si uma negação da normalidade, tão cara aos poetas e as amantes. Mas não a admiro sem críticas, afinal, por muitas vezes a madrugada está para o dia como o sol e as outras estrelas, não coexistem. Têm sido assim comigo também. Às quase 04:00, a madrugada acaba por ser não um mito, não uma metáfora idealizada. Ela simplesmente é. E a existência precede a essência.

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